quinta-feira, 3 de julho de 2008

Alguns pontos de vista de politicos e Lideres Relegiosos mocambicanos

Só o diálogo pode garantir governação do Zimbabwe - opinam políticos, líderes religiosos e representantes da sociedade civil em Maputo

SÓ o diálogo entre os principais contendores pode travar a espiral de violência e garantir a estabilidade e governabilidade do Zimbabwe, segundo opinaram políticos, líderes religiosos e representantes da sociedade civil ontem entrevistados pelo “Notícias” em Maputo, a propósito do cenário pós-eleitoral que se vive naquele país vizinho, amigo e irmão.
Maputo, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2008:: Notícias

De acordo com as fontes, se as partes, nomeadamente o Presidente Robert Mugabe e o seu partido, a ZANU-PF, e o líder do MDC, Morgan Tsvangirai, entenderem que um Governo de Unidade Nacional (GUN) pode ser a solução para o actual problema que se vive no país, então deverão avançar nessa direcção. O fundamental é que os zimbabweanos assumam esta necessidade.
Porém, Feliciano Mata, deputado da Assembleia da República, considera que nem sempre um Governo de Unidade Nacional é solução do problema, pois a experiência mostrou que nuns casos funciona e noutros não. Afirmou que o clima pós-eleitoral é favorável ao diálogo, a avaliar pelas declarações proferidas das partes nos últimos dias.

“Julgo que um diálogo construtivo pode trazer ambiente de confiança e alicerçar caminhos que ajudem a uma reconciliação efectiva e entendimento entre os zimbabweanos, sobretudo para garantir a governabilidade do país”, disse Feliciano Mata, acrescentando que o que se deve fazer é encorajar os zimbabweanos a criar um ambiente em que as partes em diferendo se entendam e reduzam as suas diferenças em relação aos aspectos fundamentais e de interesse nacional, por forma a garantir um Governo que pode reunificar a família zimbabweana e a reconstrução do país.

Segundo afirmou, o apoio para o estabelecimento do clima de estabilidade pode provir de todas as partes, incluindo os países vizinhos, a mediação e as organizações regionais e continentais. Ressalvou, no entanto, que os apoios que possam ser prestados ao povo zimbabweano não podem constituir receitas que serviram uma determinada situação e foram felizes, pois podem, perfeitamente, não funcionar para o caso vertente.
Aquele parlamentar defendeu que o diálogo a ser travado entre as partes não deve ser condicionado, sendo importante que sejam colocados acima de tudo os interesses nacionais.“A diabolização deste ou daquele não ajuda. Só o diálogo pode travar qualquer espécie de violência, permitir a governabilidade e criar um ambiente para instituições mais legítimas”, realçou, acrescentando que o que se deve encorajar é uma solução consentânea com a realidade do país.

D. Dinis Sengulane
TEMOS ALGO A DAR
Maputo, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2008:: Notícias

O Bispo dos Libombos, D. Dinis Sengulane, considera que todos nós temos algo a dar para a solução da crise no Zimbabwe, pois ela não só afecta aquele país mas sim toda a região. Disse que as informações que têm sido veiculadas não são abonatórias, pois ainda paira o espectro de violência.
“É preciso encontrar uma saída, que é o diálogo. Os irmãos zimbabweanos estão desavindos, mas é preciso limar as arestas, através do diálogo, que pode ser feito a sós ou com ajuda doutros”, disse.
Frisou que neste momento torna-se importante que as partes em conflito dialoguem sobre a melhor saída para o problema que enfrentam. D. Dinis Sengulane afirmou que está pessoalmente esperançado, mas não optimista, pois, de acordo com as suas palavras, da maneira como as coisas estão a acontecer no Zimbabwe é necessária uma solução “muito séria”. Para o Bispo, não basta que as partes digam que estão pré-dispostas ao diálogo.Disse que tanto no Quénia como no Zimbabwe não era necessário que os acontecimentos tivessem chegado ao ponto a que chegaram. Trata-se, segundo D. Dinis Sengulane, de situações extremamente embaraçosas quanto é a xenofobia na África do Sul. É preciso repensar no que provavelmente terá falhado.

Sheik Abdul Carimo Sal
RETROCESSO
Maputo, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2008:: Notícias

O curso dos acontecimentos no Zimbabwe levam a que o Sheik Abdul Carimo Sau ache que o país está a recuar em termos de democracia na região. Mas, de acordo com as suas palavras, é uma situação que não vai durar muito tempo, pois vai haver pressão ao regime de Mugabe.
O Sheik Abdul Carimo disse categoricamente que se vislumbra um regime ditatorial no Zimbabwe, facto que não vai permitir o desenvolvimento do país. De acordo com as suas palavras, a maior parte dos países do mundo não concordou com a forma como Robert Mugabe foi reconduzido ao poder. Por consequência, prevêem-se tempos de tensão política e económica.
Sobre o cenário pós-eleitoral, disse que a qualquer momento pode eclodir violência, pois não acredita que Mugabe e Tsvangirai e os respectivos partidos políticos possam dialogar. Sheik Abdul Carimo afiançou que se tratou duma situação de fraude aberta, dum regime claramente arrogante, daí a dificuldade para o diálogo.
Afirmou que os “arranjos provisórios”que se tentam estabelecer não têm pernas para andar e que mesmo com um Governo de Unidade Nacional a “máquina governamental não vai andar”.Acredita que qualquer situação que ocorra no Zimbabwe afecta Moçambique.

INSTABILIDADE AMEAÇA A REGIÃO
Maputo, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2008:: Notícias

A instabilidade no Zimbabwe ameaça a estabilidade na região, segundo defendeu o académico Zefanias Matsimbe, que manifestou receios de que “a moda” pegue na África Austral, pois mesmo com a opinião dos observadores de que as eleições naquele país não foram justas, Robert Mugabe assumiu a liderança.
Para aquele académico, quando se pretende um Governo de Unidade Nacional, se está por outras palavras a dizer que as eleições não resolvem problemas, o que significa que a democracia está em crise.
Zefanias Matsimbe esteve no Zimbabwe como observador. Contou-nos que a situação naquele país é preocupante, pois tem impacto directo no nosso país, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista social. Disse que o nível de violência foi bastante elevado, sobretudo nas zonas rurais.
As organizações que trabalham em assuntos de reconciliação, dentre as quais algumas comunidades religiosas, foram bastante manipuladas ao longo do período precedente à eleição de 27 de Junho. Algumas organizações não-governamentais foram pura e simplesmente banidas. Por isso, Zefanias Matsimbe considera que o caminho da reconciliação no Zimbabwe ainda é longo.“Não há nenhuma reconciliação que possa provir de fora. Grande parte do processo de reconciliação passa pelos zimbabweanos”, defendeu.

Máximo Dias
RECONCILIAÇÃO É POSSÍVEL
Maputo, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2008:: Notícias

O deputado Máximo Dias considera que uma reconciliação entre os zimbabweanos é possível, desde que as partes tenham o interesse nacional. O advogado defendeu que tanto Mugabe como Morgan Tsvangirai devem chegar a um entendimento.
Disse que a eleição de Robert Mugabe não é válida em termos democráticos e que se Morgan Tsvangirai tivesse concorrido na segunda volta teria ganho, pois a maioria o tinha votado na primeira. Segundo Máximo Dias, o líder do MDC apresentou razões legítimas que democraticamente são aceites, pois não podia concorrer às eleições nas condições psicológicas em que se encontrava depois de tanta pancadaria e prisão.
Como saída para a crise, Máximo Dias indicou que Mugabe deve aceitar que o poder executivo esteja nas mãos de Morgan Tsvangirai. Nesta perspectiva, Robert Mugabe ficaria com o poder presidencial, mas sem direito de veto às leis emanadas do parlamento. Para que isso acontecesse, segundo o deputado, seria necessária uma mexida na Constituição do país.
“Para evitar mais banho de sangue, deve haver uma solução de compromisso. Até pode ser de apenas dois anos e depois voltar-se às eleições. O povo do Zimbabwe não pode continuar a viver aquela situação”, disse Máximo Dias.

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